Quando se conheceram certa noite numa festa qualquer de qualquer pessoa, ficaram mais de quinze minutos apenas se olhando antes de se beijar. Parados num canto, olhos nos olhos, fixos, tentando ler a alma do outro. Uma lágrima chegou a escorrer pelo rosto dela antes que ele segurasse sua nuca e puxasse seu rosto contra o seu e seus lábios colidissem num beijo suave e intenso. Foi um belo encontro.
Na cama seus corpos pareciam ter o encaixe perfeito. Nada ensaiado, pensado, premeditado. Tudo acontecia de forma fluida e sincronizada como se fossem íntimos, amantes de anos com a fome do primeiro encontro. Nunca o desejo fora tão grande e satisfeito. Ele adorava sentir a língua dela em seu mamilo. Ela também.
Ele tinha uma vida. Ela tinha outra. Ele queria uma coisa. Ela queria outra. Ambos se queriam. De formas diferentes. Discutiam. Brigavam. Se amavam.
Noites voavam juntos. Dias ficavam intermináveis separados. Combinavam distância mas não aguentavam ela. Tentavam desesperadamente tolerar suas diferenças, camuflar sua inadequação para o estilo do outro, ao passo que nunca haviam se sentido tão adequados ao lado de alguém.
Ela sofria quando estava longe dele. Ele queria o colo dela. Ela queria o gosto dele. Ele precisava do toque dela. Ela batia em sua cara de raiva. Ele batia em sua cara de tesão. Ela o xingava. Ele puxava os cabelos dela.
Não queriam nada. Queriam tudo. Queriam ir embora pra sempre mas não saiam do lugar. Se despediam e esqueciam minutos depois. Nada fazia mais sentido. Juntos e separados. Ela dizia te amo. Ele dizia te odeio. E vice-versa. Nada era de verdade, mas tudo aquilo era real. E não podiam mais lidar com isso, fosse lá isso o que fosse.
Agora eles vagam soltos por aí.
(Pedro Neschling)
Nenhum comentário:
Postar um comentário